Diana Mesquita | |
Adeus Portugal, bonjour Paris!
La vie en rose, cidade das luzes, les croissants et des baguettes, passeios no Sena, desfrutar de um vinho ao som de um jazz, todos os clichés acerca da cidade do amor são reais. Definir Paris é difícil. É uma cidade glamorosa, stressada, sumptuosa, desordenada, miserável, enfim... É uma cidade de extremos, povoada por gente rica e famosa, toda engalanada, e por gente pobre e miserável que aproveita, nesta altura de frio cortante, os bueiros do metro que exalam calor. Julgo ter aproveitado a cidade e, não havendo possibilidade dela se aproveitar de mim, toma-lhe o lugar, nestas funções, o laboratório onde trabalhei e as suas gentes. No Institut de Cancérologie Gustave Roussy contactei, sobretudo, com uma realidade diferente da nossa, onde o volume de doentes que padece de cancro é surreal. Esta área da oncologia sempre despoletou emoções que me levaram a acreditar que podia fazer a diferença através da investigação e trabalho laboratorial. Melhorar a qualidade de vida, descobrir novos marcadores tumorais capazes de detectar precocemente as neoplasias, compreender a biologia por detrás da doença, e quiçá encontrar uma “cura”, (reforço as aspas já que a cura está ainda longe do nosso alcance), são razões que nos motivam e incentivam a trabalhar para ajudar as várias pessoas que lidam com essa doença em termos do seu acompanhamento e vigilância. Ancorei a minha vida neste hospital oncológico durante seis meses e, comigo, muita gente passou por este porto que, em Paris, foi um porto seguro. As dificuldades burocráticas, e a barreira da língua foram, sem dúvida, o grande obstáculo. Não obstante, consegui ultrapassá-las. As pessoas do hospital pareciam camaleões, não por mudarem de cor constantemente, mas por mudarem a sua forma de estar e de ser, de acordo com as suas necessidades. Julgo não ter sentido na pele a xenofobia e o racismo, mas senti a necessidade imperiosa de afirmação dos franceses face ao "ser-se francês". Contudo, pessoalmente, não posso queixar-me de absolutamente nada. Fui acolhida por uma equipa incrível, onde reinou o trabalho, os abraços e risos, a aprendizagem constante, a discussão saudável de ideias, a orientação e ajuda incontornável, e, sem dúvida, fiz amigos para a vida. Tive sorte… ou melhor, tive muita sorte por “Aquela” equipa me ter escolhido para trabalhar. Oportunidades destas não surgem todos os dias, e quando tal acontece há que agarrá-las com força e saltarmos de cabeça (parece cliché dizer tal coisa, mas estive em Paris de França por isso acho que me posso dar a esse luxo!). Uma coisa é certa, todo o conhecimento e palavras de reforço francamente positivas que hoje trago comigo devem-se a eles e a toda esta experiência Erasmus. Deixando o laboratório, posso também acrescentar que uma das vantagens de estar em Paris (sendo certo que o estar na cidade é, por si só, já um grande presente) é que se pode ligar para a rede fixa de Portugal a custo zero. Devo-vos recordar que estamos em Paris onde, por tradição, tudo é mais caro, é suposto ser mais caro e, quanto mais não seja só "pour la beauté du geste" deveria ser mais caro! Pois bem, caros leitores, agora posso afirmar que já não me sinto apenas mais uma turista, mas sim uma dos milhares de emigrantes da cité des lumières. Paris é eterna, Paris é a cidade que se deve (re)descobrir! |